A transformação do discurso direto de entrevistas para o indireto é um recurso que torna mais ágil e atrativo o texto para quem o lê. Essa passagem, porém, envolve mais do que converter perguntas e respostas, pois é preciso contextualizar o texto primeiramente. Vamos, então, ao passo a passo:
PASSO 1 – Ler atentamente o texto. Ainda que seja uma prova ou vestibular, tente fazer a leitura mais de uma vez.
PASSO 2 – Resumir perguntas e respostas. Esse resumo será necessário em determinados pontos da transcrição, já que você deve mencionar uma e outra ou uma ou outra, para fazer a articulação das ideias expressas, tanto as do entrevistado quanto as do entrevistador.
PASSO 3 – Certificar-se de que o conteúdo das perguntas e respostas seja o mesmo expresso na entrevista original. Você não pode mudar o sentido delas, apenas fazer uma paráfrase.
PASSO 04 – Escrever um texto contínuo, dividido apenas em períodos e parágrafos, sem enumeração de itens.
PASSO 05 – Ter a certeza de a transcrição apresentar as seguintes características:
§ o assunto do texto;
§ seu autor ou entrevistador (se houver);
§ sua publicação (se houver);
§ o objetivo a que se propõe a entrevista;
§ se as ideias retiradas do texto estão articuladas em orações e parágrafos;
§ se a transcrição apresenta as conclusões do autor;
§ se a transcrição foi redigida em linguagem objetiva, em 3ª pessoa do singular (como se fosse uma notícia ou narrativa jornalística – dê preferência aos verbos no passado);
§ se ela não apresenta a cópia de frases inteiras do texto original;
§ se as ideias retiradas do texto original estão na mesma ordem na transcrição;
§ se a transcrição não apresenta juízo valorativo (sua opinião particular) e, finalmente,
§ se a transcrição é compreensível por si mesma, dispensando a consulta ao texto integral.
Observação importante:
Normalmente, as propostas de vestibulares não pedem a reescrita total da entrevista, ou seja, você deve manter a introdução já feita pelo autor e apenas transformar o discurso direto das perguntas e respostas em discurso indireto. É essencial, nesses casos, que o seu texto dê continuidade à introdução original feita pelo entrevistador.
Lembre-se: A transcrição conta o(s) fato(s) que consta(m) do texto original.
Recursos a serem utilizados na elaboração da transcrição para o discurso indireto:
1.
Fórmula para passagem do discurso direto para o indireto: verbo dicendi + pronome relativo “que” + a fala do personagem ou entrevistado devidamente convertida para a 3ª pessoa do singular (ele/ela).
2. Orações ou conjunções conformativas – Ex. Segundo o autor, na opinião do autor, de acordo com o texto, de acordo com o autor, na opinião de Fulano de Tal; Segundo Fulano e Tal, De acordo com Fulano de Tal, No texto, No discurso do autor, etc.
3. Verbos no presente ou no passado (Se na entrevista original os verbos estiverem no passado, mantenha-os assim!) – Ex. O autor refere-se (referiu-se), o texto faz (fez) menção, o autor atribui (atribuiu), o texto menciona (mencionou), o autor dispõe (dispôs); o texto apresenta (apresentou), o entrevistado argumenta (argumentou), o entrevistado expõe (expôs), o entrevistado define (definiu), etc. O texto apresentou, expressou; o autor argumentou, afirmou, refez a afirmação, reiterou, etc. Essas locuções também são consideradas conformativas
4. Orações reduzidas de particípio – Ex. feitos os esclarecimentos, o autor; considerados os fatos, o texto; exposto o problema, o entrevistador/entrevistado/Fulano de Tal; perguntado sobre o assunto, Fulano afirmou; Questionado, Fulano acrescentou.
5. Na transcrição das perguntas e respostas é importante tentar passar a emoção ou o sentimento presente nelas. Isso permite ao texto tornar o assunto mais atrativo para quem o lê. Ex. um tanto reticente, Fulano preferiu expor outra conclusão sobre a pergunta; Feliz, o entrevistado resumiu o que pensa; Visivelmente incomodado, Fulano limitou-se a informar;
Colocando em prática esses passos:
PROPOSTA 01 - Considere a seguinte proposta de produção textual:
Leia a entrevista a seguir, concedida pelo cantor Chico Cesar ao jornalista Alexandre Thoele, da Agência Swissinfo. Na sequência, escreva um texto de até 10 linhas, em discurso indireto, apresentando o ponto de vista do cantor sobre a pirataria, constante das perguntas 05, 06, 07 e 08. Seu texto deve dar continuidade ao parágrafo segundo da introdução às perguntas.
"Pirataria não é um problema dos músicos"
Chico César durante apresentação no Musigbistrot, em Berna. (swissinfo)
De passagem para dar um show em Berna, Suíça, Chico César fala à swissinfo sobre sua participação em "Paraíba meu amor", o filme recém-lançado do diretor francês Bernard Robert-Charrue e dedicado aos grandes nomes do forró no Nordeste brasileiro.
O cantor e compositor paraibano também explicou porque a Internet revolucionou o cenário musical e que a pirataria traz mais vantagens do que problemas para os artistas.
Foi um concerto intimista. Essa foi a opinião expressada por um dos brasileiros presentes no show realizado em 26 de janeiro no restaurante Musigbistrot, um dos espaços culturais mais tradicionais da capital suíça, mostra o espanto de ver uma conhecida estrela da MPB de tão perto.
Chico César, com sua guitarra elétrica, era acompanhado apenas pelo sanfoneiro Lulinha. Ao executar canções conhecidas como "Mama África", o cantor e compositor paraibano conseguiu tirar os presentes das mesas e colocá-los, incluindo suíços, a dançar no salão. E obviamente não faltou forró para matar a saudade da comunidade de brasileiros no exílio voluntário.
Pouco antes de afinar os instrumentos para o show, swissinfo sentou alguns minutos com o artista para tomar um chá e falar de temas como a carreira e a Internet, um meio que cria um novo relacionamento entre artistas, público e gravadoras.
1) Qual é a mensagem de "Paraíba meu amor" e por que você foi convidado a participar do filme?
C.C: Eu sou apenas um dos convidados no projeto. Trata-se de um filme sobre o forró, uma música nordestina, e que dá ênfase a artistas da Paraíba, uma região onde esse estilo é bem forte. O diretor traz artistas de raiz como Pinto do Acordeão, Aleijadinho de Pombal ou o Dominguinhos, um grande representante do forró. Ao mesmo tempo, eles me convidaram para exemplificar a situação de um artista que nasceu na mesma realidade, usou a mesma base simbólica, mas que tem uma música aberta para o mundo.
2) Por isso a sua canção acabou virando título do filme?
C.C: O diretor, Bernard Robert-Charrue, conheceu a música "Paraíba meu amor" e achou que seria um bom título. O filme é um documentário como nos moldes do "Buena Vista", no sentido de mostrar bastante coisa sendo tocada ao vivo. A música entra sendo tocada por mim. Não há uma trilha de apoio. Todas as canções apresentadas são tocadas no momento.
3) O que te inspirou para escrever "Paraíba meu amor"?
C.C: Essa é uma canção antiga, que está no meu terceiro disco, o "Beleza Mano". Eu a fiz inspirada nos meus pais, mas que obviamente se amplia e trata da minha relação com o Sertão da Paraíba e com a sua principal festa, a festa de São João.
4) Na sua carreira você teve muitas oportunidades de se estabelecer no exterior, mas preferiu ficar no Brasil. Com tantos talentos, esse não é mercado complicado?
C.C: De fato, o Brasil é um mercado difícil, mas isso é bom, pois exige mais dos músicos que lá estão. Você não pode fazer apenas música brasileira, mas sim tem de se diferenciar. É preciso entender que você está no país de Pixinguinha, Donga, Luiz Gonzaga, Chico Buarque ou Noel Rosa. É um país que também tem uma história muito forte de música, incluindo também a erudita como Alberto Nepomuceno ou Villas Lobos. É um país com um gosto apurado e uma concorrência acirrada. Há muitos músicos e não existem tantos canais de distribuição.
5) Além da concorrência, vocês ainda enfrentam o problema da pirataria, um fenômeno generalizado no mundo.
C.C: A pirataria não é um problema dos músicos. Nós sempre vivemos dos shows, das apresentações ao vivo. Eu acho que a pirataria é fruto de um momento de renovação frente a uma inadequação do mercado. Você tem coisas muito novas como a possibilidade de baixar música pela Internet, enquanto que conservadoramente ainda se utiliza o suporte do disco. Aparentemente a sociedade não estava pronta para a Internet, mas na verdade o que ela não quer mais é esse suporte. O desenvolvimento apontou para outro caminho. São as companhias fonográficas, midiáticas ou telefônicas que têm de se entender entre elas e determinar qual será o novo suporte, se ele existirá ou não, se qualquer um poderá baixar o que quiser, se haverá um controle disso tudo.
6) Então para você não faz diferença?
C.C: Não, não faz diferença.
7) E quando você encontra coletâneas em MP3 dos seus discos nos camelôs? Não se sente lesado?
C.C: Olha, eu fico até lisonjeado. Isso significa que tem gente querendo escutar a minha música. Eu acho que esse é um momento intermediário e que em alguns anos, talvez dois ou cinco, essa situação esteja mais clara. O destino do CD é o destino da fita cassete: ele vai ter um uso doméstico durante um tempo - eu copio umas músicas para você e de dou - mas vai chegar o momento em que esse meio não vai servir nem para os piratas. Isso, pois as pessoas vão ter computador e vão transferir, umas às outras, seus arquivos.
8) Você, pessoalmente, também consome música dessa forma?
C.C: Na verdade, eu ganho muitos CDs. Mas também gosto de comprar CDs nas bancas de jornais. No Brasil há um jornal que lançou há pouco tempo uma coleção de jazz e que eu tento acompanhar. São obras que a gente nunca iria encontrar nas lojas, como discos dos anos 40 ou 50. Não tenho o hábito de sentar na frente do computador e passar horas baixando músicas. O máximo que eu faço é uma pesquisa ou outra, como quando alguém me propõe um trabalho que está relacionado com um determinado tema. Aí eu vou a computador e tento recolher as informações.
9) A Internet ajuda também no seu próprio trabalho como músico?
C.C: É um instrumento muito democrático. Você tem acesso a bibliotecas do mundo inteiro, arquivos de música ou ciência. Ela não pode ser considerada um mal em si.
10) As novas tecnologias não dão mais independência para o artista em relação às gravadoras? Hoje você mesmo produz o disco e pode distribuí-lo por canais como a Internet, não?
C.C: Alguns artistas sempre foram mais donos do seu próprio nariz do que outros. No meu caso, eu comecei a carreira de forma independente. Eu fiz um disco e o vendi para uma gravadora pequena, a Velas, do Ivans Lins. Depois dei continuidade à carreira no selo MZA Music, do Marco Mazolla, que era ligado à Universal. Acho que tem um tipo de artista que sempre vai ter uma opinião mais firme sobre si mesmo. Isso é mais fácil no meio "indie", do que no "mainstream". Depois eu criei a minha própria gravadora para lançar outros artistas ou produtos diferentes como discos para crianças.
11) Aí você se tornou completamente independente?
C.C: Não, os meus dois últimos produtos saíram pela gravadora Biscoito Fino. Foi um disco e um DVD, na seqüencia. Já o próximo trabalho, eu não sei onde ele irá sair. Hoje os contratos com as gravadoras são feitos por obra. E, geralmente, o artista apresenta a obra pronta ou um projeto da obra. Ele vai aos estúdios, grava, produz e chega na gravadora dizendo "olha, o que eu tenho é isso aqui".
12) E aí o que ocorre? Você cede o disco e vai para casa com o dinheiro?
C.C: Aí a mídia pode comprar o trabalho ou licenciá-lo. Neste caso você volta a ser dono da matriz em cinco anos, por exemplo. Esse é um novo sistema. As gravadoras tendem a se tornar promotoras dos artistas e ficam mais envolvidas em atividades ligadas ao marketing. Elas vão ganhar a partir da bilheteria dos shows dos artistas, ou seja, vão ser sócias dos artistas. E aí você vai desenvolver essas parcerias por um determinado período, com quem você acha mais conveniente. (swissinfo, Alexander Thoele
Se você interpretou bem a proposta de redação, percebeu que não precisa ler toda a entrevista para realizar a atividade. Basta ler o segundo parágrafo da introdução e as perguntas 05, 06, 07 e 08. Depois, é só elaborar a transcrição para o discurso indireto.
Vamos recortar as tais perguntas para ficar mais fácil a nossa tarefa de marcar o que é importante nas respostas:
5) Além da concorrência, vocês ainda enfrentam o problema da pirataria, um fenômeno generalizado no mundo.
C.C: A pirataria não é um problema dos músicos. Nós sempre vivemos dos shows, das apresentações ao vivo. Eu acho que a pirataria é fruto de um momento de renovação frente a uma inadequação do mercado. Você tem coisas muito novas como a possibilidade de baixar música pela Internet, enquanto que conservadoramente ainda se utiliza o suporte do disco. Aparentemente a sociedade não estava pronta para a Internet, mas na verdade o que ela não quer mais é esse suporte. O desenvolvimento apontou para outro caminho. São as companhias fonográficas, midiáticas ou telefônicas que têm de se entender entre elas e determinar qual será o novo suporte, se ele existirá ou não, se qualquer um poderá baixar o que quiser, se haverá um controle disso tudo.
6) Então para você não faz diferença?
C.C: Não, não faz diferença.
7) E quando você encontra coletâneas em MP3 dos seus discos nos camelôs? Não se sente lesado?
C.C: Olha, eu fico até lisonjeado. Isso significa que tem gente querendo escutar a minha música. Eu acho que esse é um momento intermediário e que em alguns anos, talvez dois ou cinco, essa situação esteja mais clara. O destino do CD é o destino da fita cassete: ele vai ter um uso doméstico durante um tempo - eu copio umas músicas para você e de dou - mas vai chegar o momento em que esse meio não vai servir nem para os piratas. Isso, pois as pessoas vão ter computador e vão transferir, umas às outras, seus arquivos.
8) Você, pessoalmente, também consome música dessa forma?
C.C: Na verdade, eu ganho muitos CDs. Mas também gosto de comprar CDs nas bancas de jornais. No Brasil há um jornal que lançou há pouco tempo uma coleção de jazz e que eu tento acompanhar. São obras que a gente nunca iria encontrar nas lojas, como discos dos anos 40 ou 50. Não tenho o hábito de sentar na frente do computador e passar horas baixando músicas. O máximo que eu faço é uma pesquisa ou outra, como quando alguém me propõe um trabalho que está relacionado com um determinado tema. Aí eu vou a computador e tento recolher as informações.
Como é possível observar, para dar continuidade ao segundo parágrafo, a partir da pergunta cinco, não é preciso transcrever a pergunta, apenas fazer o resumo da resposta do cantor e acrescentá-lo logo após o já mencionado parágrafo. Ficaria assim:
“O cantor e compositor paraibano também explicou porque a Internet revolucionou o cenário musical e que a pirataria traz mais vantagens do que problemas para os artistas.” Na opinião de Cesar, a pirataria não causa danos aos músicos, pois eles vivem mais dos shows e das apresentações ao vivo. Conciliativo, acrescentou que a pirataria é fruto de um momento de renovação do mercado a uma inadequação dos meios de veiculação das músicas. Segundo ele, hoje se tem novas formas de acesso às obras dos artistas, como baixar música pela Internet e são as gravadoras que insistem na veiculação por discos. Perguntado se ficaria incomodado por encontrar seus CDs em camelôs, o cantor informou que, pelo contrário, se sentiria lisonjeado, em vista de isso revelar o interesse de pessoas comuns à sua obra. Esquivo, porém, afirmou que prefere consumir músicas por coletâneas populares a baixá-las da rede universal e que só a utiliza para pesquisas temáticas.
Neste momento da sua produção, é importante fazer a revisão final, atentando para:
- Uso correto dos tempos e pessoas verbais;
- Contemplação do limite máximo de linhas permitidas para a transcrição;
- Uso de conectivos, orações ou locuções conformativas;
- Uso da fórmula do discurso indireto;
- Uso das orações reduzidas do particípio;
- Uso da transcrição das emoções do entrevistado e do entrevistador;
- Uso da correta pontuação e atendimento à coesão e coerência textual (seu texto precisa dar continuidade ao texto original).
Feito isso, fique feliz. Você cumpriu sua obrigação para com o que foi proposto. Agora, é treinar e treinar.