domingo, 17 de outubro de 2010

PASSO A PASSO DO COMENTÁRIO

O comentário (jornalístico ou não) nada mais é do que um argumento formulado para afirmar alguma coisa, bem como fazer o julgamento sobre um fato, uma notícia, uma entrevista, um questionamento. Para quem ainda se lembra de como foi feita a resenha crítica, saberá que, em certo momento daquele gênero, foi preciso fazer comentários avaliativos (julgamento) sobre a obra resenhada.
            Quando respondemos a uma questão dissertativa em nossa apostila, também estamos fazendo um comentário. Por isso a minha insistência para que as respostas sejam completas e não dependam da leitura da pergunta para serem compreendidas.
            O comentário, portanto, é um gênero textual dissertativo-argumentativo-avaliativo. No caso da nossa proposta de produção textual contemplada na página 35 da apostila 1, devemos avaliar a entrevista dada pelo poeta Ferreira Gullar à Revista Língua Portuguesa (ano I, n. 5, 2006, p.12) e inter-relacioná-la com o poema proposto. Isto é, precisamos avaliar, argumentar e julgar se o poema corresponde ao método descrito pelo poeta para a sua produção artística.
            O que, afinal, se deve avaliar, argumentar e julgar nessa proposta? Para responder a esse questionamento,  é importante que em nosso comentário apareçam respondidas pelo menos as seguintes perguntas:
1.    O “Poema Brasileiro”, de Ferreira Gullar, é um exemplo do método de criação descrito pelo poeta na entrevista?
2.    Em que sentido o poema se enquadra na descrição do processo criativo feita pelo poeta?
3.    Que traços do poema ou que versos são exemplos do que foi afirmado pelo poeta?
4.    Como me coloco diante do tema desse poema? Ele me é relevante? Ele emociona? Ele critica? Ele expõe um problema? Esse problema, se existir, está distante ou muito próximo da minha realidade? Se está próximo, por quê? Se está distante, por quê?
            Mas como “montar” esse texto? Vamos, então, ao passo a passo:
Passo 01 – contextualizar nosso comentário. Lembre-se: nosso leitor não pode depender da leitura da entrevista nem da leitura do poema para entender nosso comentário. Imagine que esse comentário foi publicado em um número posterior da Revista. Será que o leitor teve acesso ao número anterior e sabe do que trata o seu texto atual? Provavelmente não. Mesmo que tenha tido acesso à entrevista e ao poema, será que ainda se lembra de detalhes do que leu? A resposta para essa pergunta é, muito provável, que não. Então, contextualize! Para contextualizar seu comentário, descreva:
  1. Quem é o poeta Ferreira Gullar? (É, vai ter que pesquisar!!!! Afinal, ninguém escreve sobre o que e quem não conhece...)
  2. Qual é o estilo de suas poesias?
  3. Por que você está escrevendo esse comentário? Baseado em que fato? Que ocorreu quando? Onde?
  4. Desse fato ocorrido, no caso a publicação da entrevista na Revista Língua Portuguesa (ano I, n. 5, 2006, p.12) o que chamou a sua atenção para que resolvesse escrever o comentário?
Passo 02 – Selecionar a parte da entrevista em que você considera que o autor expõe as regras que costuma seguir para a criação da sua obra. Para isso, vamos precisar marcar no texto da entrevista o que consideramos apropriado para ser comentado:
                                               “Para escrever, você tem algum método?
                                               Nenhum. Sei de quem planeja o trabalho e o segue. Como o João Cabral. Meus                                         poemas nascem do acaso, das circunstâncias da vida. São impulsos,                                                         impressões. ‘Filhos’ (o poema) nasceu do cochilo que dei enquanto lia. Nesse                                           rápido apagar de consciência, sonhei que meus filhos, já adultos, ainda eram                                            crianças, brincavam na sala e entravam rindo no escritório. Acordei e o                                                      escrevi. Mas há poemas em que trabalho meses.”
            No meu caso, vou escrever não sobre o poema proposto na apostila (pensaram que eu daria de graça esse trabalho? Nããããooooooooo!). Eu preferi falar sobre o outro poema citado pelo autor: “Filhos”. Então, devo marcar na entrevista aquilo que penso ser necessário para inter-relacionar o poema escolhido com a fala do poeta. Ficou assim:
                                               Para escrever, você tem algum método?
                                               Nenhum. Sei de quem planeja o trabalho e o segue. Como o João    Cabral. Meus                                      poemas nascem do acaso, das circunstâncias da vida. São impulsos,                                                         impressões. ‘Filhos’ (o poema) nasceu do cochilo que dei enquanto lia. Nesse                                           rápido apagar de consciência, sonhei que meus filhos, já adultos, ainda eram                                            crianças, brincavam na sala e entravam rindo no escritório. Acordei e o                                                      escrevi. Mas há poemas em que trabalho meses.”
            Vou precisar também do poema a ser comentado:


            Agora, é só dar continuidade à elaboração do meu comentário. Lembre-se:
  • Introdução (contextualização e tese que vou defender sobre a entrevista do poeta);
  • Desenvolvimento, com as provas de que o poema se enquadra no método descrito pelo poeta;
  • Conclusão, com o meu julgamento.
  • Dificuldade: só quinze linhas para por tudo isso no papel!
            Eu poderia começar esse texto de várias formas: citando a entrevista; citando o poeta; citando a revista em que a entrevista foi publicada; citando o poema escolhido. Eu preferi começar pelo poeta. Minha contextualização, portanto, terá início com o poeta!

            Ferreira Gullar é um poeta do mundo, das coisas do mundo. Tudo o que parece trivial, mundano, profano é razão para a existência da sua poesia. É o que afirmou em entrevista concedida à Revista Língua Portuguesa (ano I, n. 5, 2006, p.12). Na época, perguntado se tem um método para criar, o poeta afirmou sem rodeios: “nenhum, (...) meus poemas nascem do acaso, das circunstâncias da vida”. Para ele, basta observar o mundo e o retratar como o vê.
            Nessa entrevista, o poeta das coisas do mundo revelou como escreveu “Filhos”: “(o poema) nasceu do cochilo (...) sonhei que meus filhos, já adultos, ainda eram crianças, brincavam na sala e entravam rindo no escritório”. Gullar tem um insight durante o sono e se vê diante de uma segunda chance – também desperdiçada – de dar aos filhos mais atenção, mais do seu tempo: “Só então/me perguntei/por que/não lhes dera/maior/atenção/se há tantos/e tantos/anos/não os via crianças/já que/agora/estão os três/com mais/de trinta anos”. Como coisas da vida, essa é a mesma pergunta que fazem a maioria dos pais diante do fracasso dos filhos.
            Diante dos erros familiares, muitos pais cedem à angústia da impossibilidade de reverter situações, de corrigir a ausência, de solidificar relações. Quantos desses remorsos não devem existir por aí à espera que um poeta atento os materialize em palavras eternas. Salve Gullar!
            Agora que o texto ficou pronto, basta dar um título e assinar. Meu comentário ficará assim:
Salve o poeta do mundo!
            Ferreira Gullar é um poeta do mundo, das coisas do mundo. Tudo o que parece trivial, mundano, profano é razão para a existência da sua poesia. É o que afirmou em entrevista concedida à Revista Língua Portuguesa (ano I, n. 5, 2006, p.12). Na época, perguntado se tem um método para criar, o poeta alegou sem rodeios: “nenhum, (...) meus poemas nascem do acaso, das circunstâncias da vida”. Para ele, basta observar o mundo e o retratar como o vê.
            Nessa entrevista, o poeta das coisas do mundo revelou como escreveu “Filhos”: “(o poema) nasceu do cochilo (...) sonhei que meus filhos, já adultos, ainda eram crianças, brincavam na sala e entravam rindo no escritório”. Gullar tem um insight durante o sono e se vê diante de uma segunda chance – também desperdiçada – de dar aos filhos mais atenção, mais do seu tempo: “Só então/me perguntei/por que/não lhes dera/maior/atenção/se há tantos/e tantos/anos/não os via crianças/já que/agora/estão os três/com mais/de trinta anos”. Como coisas da vida, essa é a mesma pergunta que fazem a maioria dos pais diante do fracasso dos filhos.
            Diante dos erros familiares, muitos pais cedem à angústia da impossibilidade de reverter situações, de corrigir a ausência, de solidificar relações. Quantos desses remorsos não devem existir por aí à espera que um poeta atento os materialize em palavras eternas. Salve Gullar!
Marilza Verni Reis
Professora de Língua Portuguesa

Atenção: Se um dia estiver diante de uma situação de ENEM, concurso público ou vestibular que exija  o texto não ser assinado, respeite a proposta. Não assine. Se a proposta pedir que você se identifique como “um aluno” ou por iniciais, respeite a proposta. Se a proposta não der nenhuma orientação, não coloque nenhum tipo de assinatura.
                        Quanto ao título, ele é opcional, de acordo com a situação. Se o comentário for publicado logo após a entrevista, não terá título. Se for publicado posteriormente, deve ter título.
            Bom, é isso. Boa sorte para vocês nessa empreitada! Qualquer dúvida, mandem um e-mail.
            

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